Há mais oferta de emprego mas salários são mais baixos
Os centros de emprego estão longe de dar resposta à maior parte dos pedidos de emprego. Mas o número de ofertas disponíveis está a subir - mais 41% que no ano passado - e já atingiu o nível dos valores antes da crise. O problema é que os salários oferecidos são cada vez mais baixos. Há até uma oferta de emprego a 600 euros/mês para um engenheiro civil, a quem se pede licenciatura; menos que os 641 euros de uma outra oferta para vigilante.
De janeiro a setembro deste ano foram anunciadas 99 814 vagas de emprego, pouco menos que as 100 739 vagas disponibilizadas no mesmo período de 2010, de acordo com os dados que o IEFP facultou ao DN/Dinheiro Vivo. Isto denota uma maior abertura por parte das empresas para contratar, e uma melhoria nas áreas da indústria, construção ou serviços - sectores duramente afetados desde o início da crise da zona euro. Além disso, de acordo com o IEFP, sente-se um “acolhimento favorável, por parte dos empregadores, dos programas e medidas de emprego e também de formação profissional direcionadas para promover e incentivar o emprego”, como o Estímulo 2012/2013 e o Reembolso da Taxa Social Única.
O aumento do número de vagas só não é acompanhado por uma melhoria nas condições oferecidas: o salário médio é 5% inferior ao de 2010; a maior parte dos trabalhos disponibilizados são por contrato e muitos a tempo parcial. Além disso, há poucas vagas destinadas a licenciados. E são precárias.
Numa análise rápida às ofertas anunciadas na última semana no site do Instituto de Emprego e Formação Profissional (IEFP) encontram-se várias ofertas para pessoas com 4.º ou 9.º anos de escolaridade e menos de uma dúzia para pessoas com ensino superior. Isto leva a que os valores oferecidos estejam, na sua maioria, em linha com o salário mínimo nacional. Quando se fala de licenciados, em áreas como a engenharia ou a arquitetura, o cenário muda pouco: exige-se tempo de experiência, horários semanais completos e remunerações que não vão além dos 600 euros.
“Apesar de estarmos a melhorar e, por isso, a ver surgirem mais contratações, essa recuperação ainda não se sente ao nível dos salários”, reconhece Rafael Campos Pereira, da Confederação Industrial de Portugal (CIP), acrescentando, contudo, que “alguns sectores na área da indústria já estão a pagar melhor”.
De facto, a indústria tem um dos maiores aumentos de ofertas de trabalho entre todas as áreas disponibilizadas: mais 62,8% que no ano 2012 (de janeiro a outubro), com a indústria têxtil a ter a maior subida de todas no número de vagas 163%.
Em outubro deste ano foram colocadas 19 566 ofertas de emprego (14 498 para o continente) neste portal, mais 79% que em 2011, o ano em que Portugal pediu ajuda financeira internacional. Mas com 905 954 pedidos de emprego, este aumento ainda não chega para empregar mais de 97% dos desempregados, isto se todas as ofertas fossem preenchidas, o que não acontece.
Ao todo, o IEFP contabilizou, até outubro, 8414 colocações, podendo estas estar associadas a pessoas desempregadas ou pessoas que pretendem mudar de emprego. O maior número de colocações pertence ao sector que mais ofertas de emprego disponibilizou: atividades imobiliárias, administrativas e dos serviços de apoio. Um fenómeno “difícil de explicar”, segundo o responsável da CIP, que lembra que “a construção e o imobiliário ainda estão longe da recuperação”.
No entanto, Rafael Campos Pereira argumenta que “veremos um aumento contínuo das ofertas de emprego” à medida que a economia revitalize. E as boas notícias parecem estar à porta: esta sexta-feira, o Banco de Portugal revelou que, pela primeira vez desde janeiro de 2011, o indicador coincidente de atividade económica registou um crescimento de 0,4%.
fonte:http://www.dinheirovivo.pt